30 de dez. de 2010

O tempo que tempo tem?

Deito de leve a cabeça no travesseiro
Quando fecho meus olhos de agora, o tempo se esgota
é a morte
Que se esvai quando renasço no tempo de amanhã

aquele que começa no novo e termina no antigo
aquele que começa no antigo e termina no novo

29 de dez. de 2010

Retrospectiva


Esse ano foi complexo, é a primeira coisa que penso ao tentar fazer uma reflexão de tudo que aconteceu. Todos os dias são tão cheios que é difícil tentar puxar pela memória os primórdios de 2010. Mas adoro me propor a esse tipo de reflexão, para clarear o fechamento de um ciclo, mesmo que 2011 entre como a continuação do que ficou em aberto em 2010 e nos anos posteriores.

Entrei o ano com umas das pessoas que mais amo a beira do desencarne, cada dia era como uma nova morte, mas eu dei as mãos para ela, olhei bem fundo dos olhos dela e disse: “então, vamos lá”.  A morte nunca tinha passado assim tão perto de mim e foi assustador, mas depois que veio foi como um calmante para o coração, uma passagem daqui para depois do aqui. A dor durante foi maior que a de depois, já que a alma é eterna e está sempre por perto, mesmo que muitas vezes não seja visível. Não existe fim.

Meu avô faleceu deixando muitas lágrimas e saudades e foi tão perto do aniversário de minha mãe que este passou quase despercebido.

Mesmo assim, fomos comemorar com alegria os 50 de mamãe num restaurante há tempos desejado.

Em Fevereiro meu primeiro contrato de estágio terminou e não o renovei, queria algo novo. Depois de uma saga de papeladas e burocracias recomecei a trabalhar em Março em um arquivo histórico que a princípio se mostrou bem interessante já que eu lidava com documentação referente ao Sanatório São Pedro, mas depois, a mecanicidade acabou com a motivação. Será que existe algum trabalho que não seja assim, óbvio, cotidiano, mecânico? Passei então, no mesmo lugar, a trabalhar com uma documentação referente à escravidão, tema que não me agrada, portanto logo busquei um novo estágio.

Junto com as mudanças de estágio as aulas no terceiro semestre da faculdade se arrastavam, uma cadeira insuficiente de fotografia, duas chatas de direito, uma terrível na qual deveríamos aprender a produzir docs. eletrônicos, avaliação de documentos e informação e memória social – as duas melhores. Foi um semestre chatinho, não havia quem não comentasse. No mais, namorei, sai, vi os amigos e estudei pra caramba, como de costume.

Em Maio, ao mesmo tempo em que comecei a busca de um novo estágio, minha vida começou a mudar. Eu e meu namorado passamos uma semana inteira juntos e decidimos passar mais anos inteiros juntos.

Assim de Maio para Julho os meses passaram num pulo, comecei a trabalhar num local bem bacana com mais duas horas por dia que fizeram a diferença para bem e para mal no fim do segundo semestre. Matriculei-me em seis cadeiras, o que não teria sido tão pesado se eu não tivesse que ler e estudar tanto para cada uma. Comecei a comprar coisas para casa, eu e meu namorado decidimos alugar, depois decidimos comprar, depois redecidicimos alugar e enfim optamos por comprar um apartamento.

As aulas e a minha vida foram mais ou menos tranquilas até Outubro, depois o cerco de estudos se fechou. Quando não estava enlouquecendo com algum trabalho ou prova estava empacotando coisas em caixas, arrumando roupas em malas, enfim, em um período de transição.

O blog que criei em Janeiro pelo renascer da vontade de escrever abandonei por completo nos últimos meses do ano. Vida social e namoro, então, eram relações praticamente inexistentes.

Viajei bastante também este ano, com uma frequência bem anormal. Entrei o ano saindo de Imbé, revi Floripa, conheci Barra do Ribeiro com as amigas, fui a Rosário do Sul e Rivera, me aventurei por Punta Del Este, Montevideo e Buenos Aires, conheci o Rio de Janeiro com a família, fui a Santos para um congresso e de quebra conheci São Paulo, estive em Salvador. Existem lugares para os quais voltarei. Conheci várias novas pessoas, tive várias novas experiências e tantas histórias para contar.

Num giro de 360 graus conseguimos um apartamento sem comprar nem alugar, catamos padrinhos e madrinhas para um casamento futuro, empacotamos nossas antigas vidas para abrir as caixas e tirar dali as novas vidas como num passe de mágica bem elaborado.  Em Dezembro, pouco antes do Natal reabrimos as caixas dentro do apartamento já pintado e limpo com gosto.

Neste momento o segundo semestre na faculdade já havia terminado. Este foi o semestre mais puxado, mas mais recompensador de todos. Foi o semestre em que comecei a questionar o curso e as minhas decisões em geral. “Será que é isso?” É normal perguntar-se as coisas, estranho é nunca fazê-lo.

A família passou um ano de idas e vindas, o Natal foi dividido, as festas foram distantes. Os mais velhos começaram o processo de dar espaço para os que virão e todos se assustaram com isso. Novos relacionamentos vieram, outros passaram.

Meu irmão ganhou um quarto novo, minha mãe uma sala maior e eu um apartamento todo e uma porção de reações diferenciadas quanto a minha decisão.

Neste ano, também começaram os sintomas para o despertar da humanidade que será em 2012, mesmo que eu só os tenha sentido no fim do ano. Este despertar vem dando trabalho: rever conceitos, ceder, mudar, enfrentar situações sempre é difícil.

Neste ano também comecei a buscar mais pela teoria da minha espiritualidade. Iniciei pelas sensações, passei para os livros – do Espiritismo à Umbanda. Tudo muito devagar, com muita curiosidade.

Continuei com boas amizades, renovei algumas antigas, fiz ótimas novas.

Acredito que finde bem o ano, curiosa pelo que virá. 
Que seja feliz o 2011, que o mundo continue a girar.

6 de nov. de 2010

Vem Paul!Vem Paul! Vem nos fazer feliz!

Sobre o show de Paul McCartney em Porto Alegre dia 07/11/2010:

Pessoas esperaram a vida inteira para ver esse espetáculo
Nossa! Respirar o mesmo ar que o ídolo por três horas, estar o mais perto possível dele por alguns momentos
Uma fila de um dia, três dias é pouco perto da grandiosidade do momento.
Curioso, mas eu não nutro paixão assim por ninguém, por nada. Por isso, provavelmente, seja tão difícil de entender e participar
Vai ter gente de todo jeito lá, gente que foi criada ouvindo Beatles, gente que ouviu a pouco e já se apaixonou...pura energia!
é bonito sim ver as pessoas realizando seus sonhos

22 de set. de 2010

Passei por uma funerária com letras brilhantes
Na porta, um morto esperando me atender.

9 de set. de 2010

Ninguém esperava

A contagem vinha em ritmo acelerado. O pai de um amigo faleceu. Silêncio. A contagem para, a leitora de códigos de barras cessa, os processos permanecem em desordem, as caixas ficam pela metade, tudo está paralisado. A morte torna todo o resto fútil, desnecessário. Sorrir enquanto um amigo chora é como um crime. Contendo as lágrimas, aos poucos, as máquinas recomeçam.

0098524 1400/10-9 OK
9008567 1300/10-8 OK
1226850 1400/10-5 OK
2398745 1200/10-4 OK

Todos são colocados nas caixas. As vidas dentro das caixas. A morte silenciosa. Não há crença que minimize a dor. Não há mais sorrisos nem versos até o fim do expediente. A leitora começa a pegar ritmo,

pi...tam...pi...tam...pi...tam...pi...tam...pi...tam...pi...pi...pi...pá...pá...pá...pá...pi..tic...tac...tic...tac...tic...tac...pá...tac..pi..tum...pá...
Continua a grande engrenagem da vida.

                                                                   

4 de set. de 2010

Amor

Estava sentada lendo um livro em frente à lareira, meu amor chegou e beijei-lhe a mão. Fechei o livro e observei o fogo. Quando reabri o livro, ele sentou-se ao meu lado, acarinhou meus cabelos e beijou-me na testa. Pela primeira vez, eu pensei que aquilo poderia ser para sempre ou que já fora para sempre.

3 de set. de 2010

Mais um passo para frente

   Voltei olhando sobre as nuvens. A noite iluminada e o brilho das estrelas só eram visíveis devido às descargas elétricas emitidas pelas asas do gigante metálico. Quando entramos na área de instabilidade apertamos os cintos e eu pensei “Deus, se for a minha hora que não haja dor e se não for que eu consiga aproveitar cada segundo disto”. Um medo sempre é um movimento – para frente ou para trás. O meu medo, comumente me move para frente.

   Ir a Santos foi novo, motivador e transformador. É possível desbravar sozinho, mas é melhor quando acompanhado – ainda mais se a selva a ser desbravada for uma pista cheia de curvas com duas estreitas faixas que beiram o abismo e por onde só passam caminhões e ônibus.

   Além do Congresso não tão bom e da cidade bem legal, o que eu descobri com essa viagem: adoro aeroportos, não gosto tanto de voar. Observar sob as nuvens cinza as ruas douradas que se formam, perceber o contorno dos mundos esbranquiçados que se sobrepõem as nossas cabeças e que se submetem a nossa força, ascender com dor no peito e aterrissar com alívio no coração varia entre bacana e lindo, é marcante, arrebatador, mas inseguro. Não que qualquer outra situação na vida seja completamente segura, mas algumas, pelo menos, aparentam. Voar sempre é incerto. Quase certos são os aeroportos – quase certo que serão em terra firme, quase certo que haverá uma porção de pessoas só de passagem, quase certo que comeremos e beberemos por quantias de caras a exorbitantes, se essa for nossa escolha. Aeroportos são basicamente lugares interessantes porque marcam encontros e despedidas, marcam a queda de máscaras, a certeza das dúvidas. Todos passam em busca de algo além, de algo que não está ali.

   O de Brasília e o de Salvador são adoráveis, o de Porto Alegre é bom porque é nosso, em São Paulo; Guarulhos é bacana quando não está no ritmo da cidade e do Galeão não gostei.

   Retirei da minha bagagem de mão aquilo que já sei sobre isso, para lhes mostrar.

   Até a próxima viagem!

23 de ago. de 2010

Eu não tenho medo de ter medo, eu tenho medo é de ficar parada

Viajo para Santos essa noite e meu corpo físico está sendo o perfeito reflexo de meus medos.

Minhas frases no twitter há poucos minutos atrás:

Tive todo tipo de pereba semana passada. Elas foram um consciente reflexo de meu enorme medo diante da viagem que virá.
Ainda estou um pouco apática quanto a ela...não consegui parar para perceber as belezas de Santos, acho que só estando lá mesmo
e confiando em mim mesma, conseguindo realizar. Estou esperando ansiosamente pelo momento em que a Lau capricorniana aparecerá
dominando os medos e indecisões da Lau mais frequente.
Certamente eu nunca trive tanto medo de alguma coisa do que o de ser independente, livre.
Sebastião da Gama dizia "é pelo sonho que vamos" e eu digo que é também pelo medo que vamos. Pelo medo de ficar estagnada, dominada.
Eu vou em frente, custe o medo que custar.
E quando eu voltar, vou ser alguém melhor.

13 de ago. de 2010

Oi Tchau Eu sou teu gato preto


“Ele fixaria em Deus aquele olhar de esmeralda diluída, uma leve poeira de ouro no fundo. E não obedeceria porque gato não obedece. Às vezes,quando a ordem coincide com sua vontade, ele atende mas sem a instintiva humildade do cachorro, o gato não é humilde, traz viva a memória da liberdade sem coleira. Despreza o poder porque despreza a servidão. Nem servo de Deus. Nem servo do Diabo."
Trecho extraído do texto "Os Gatos" de Lígia Fagundes Teles