22 de set. de 2010

Passei por uma funerária com letras brilhantes
Na porta, um morto esperando me atender.

9 de set. de 2010

Ninguém esperava

A contagem vinha em ritmo acelerado. O pai de um amigo faleceu. Silêncio. A contagem para, a leitora de códigos de barras cessa, os processos permanecem em desordem, as caixas ficam pela metade, tudo está paralisado. A morte torna todo o resto fútil, desnecessário. Sorrir enquanto um amigo chora é como um crime. Contendo as lágrimas, aos poucos, as máquinas recomeçam.

0098524 1400/10-9 OK
9008567 1300/10-8 OK
1226850 1400/10-5 OK
2398745 1200/10-4 OK

Todos são colocados nas caixas. As vidas dentro das caixas. A morte silenciosa. Não há crença que minimize a dor. Não há mais sorrisos nem versos até o fim do expediente. A leitora começa a pegar ritmo,

pi...tam...pi...tam...pi...tam...pi...tam...pi...tam...pi...pi...pi...pá...pá...pá...pá...pi..tic...tac...tic...tac...tic...tac...pá...tac..pi..tum...pá...
Continua a grande engrenagem da vida.

                                                                   

4 de set. de 2010

Amor

Estava sentada lendo um livro em frente à lareira, meu amor chegou e beijei-lhe a mão. Fechei o livro e observei o fogo. Quando reabri o livro, ele sentou-se ao meu lado, acarinhou meus cabelos e beijou-me na testa. Pela primeira vez, eu pensei que aquilo poderia ser para sempre ou que já fora para sempre.

3 de set. de 2010

Mais um passo para frente

   Voltei olhando sobre as nuvens. A noite iluminada e o brilho das estrelas só eram visíveis devido às descargas elétricas emitidas pelas asas do gigante metálico. Quando entramos na área de instabilidade apertamos os cintos e eu pensei “Deus, se for a minha hora que não haja dor e se não for que eu consiga aproveitar cada segundo disto”. Um medo sempre é um movimento – para frente ou para trás. O meu medo, comumente me move para frente.

   Ir a Santos foi novo, motivador e transformador. É possível desbravar sozinho, mas é melhor quando acompanhado – ainda mais se a selva a ser desbravada for uma pista cheia de curvas com duas estreitas faixas que beiram o abismo e por onde só passam caminhões e ônibus.

   Além do Congresso não tão bom e da cidade bem legal, o que eu descobri com essa viagem: adoro aeroportos, não gosto tanto de voar. Observar sob as nuvens cinza as ruas douradas que se formam, perceber o contorno dos mundos esbranquiçados que se sobrepõem as nossas cabeças e que se submetem a nossa força, ascender com dor no peito e aterrissar com alívio no coração varia entre bacana e lindo, é marcante, arrebatador, mas inseguro. Não que qualquer outra situação na vida seja completamente segura, mas algumas, pelo menos, aparentam. Voar sempre é incerto. Quase certos são os aeroportos – quase certo que serão em terra firme, quase certo que haverá uma porção de pessoas só de passagem, quase certo que comeremos e beberemos por quantias de caras a exorbitantes, se essa for nossa escolha. Aeroportos são basicamente lugares interessantes porque marcam encontros e despedidas, marcam a queda de máscaras, a certeza das dúvidas. Todos passam em busca de algo além, de algo que não está ali.

   O de Brasília e o de Salvador são adoráveis, o de Porto Alegre é bom porque é nosso, em São Paulo; Guarulhos é bacana quando não está no ritmo da cidade e do Galeão não gostei.

   Retirei da minha bagagem de mão aquilo que já sei sobre isso, para lhes mostrar.

   Até a próxima viagem!