9 de set. de 2010

Ninguém esperava

A contagem vinha em ritmo acelerado. O pai de um amigo faleceu. Silêncio. A contagem para, a leitora de códigos de barras cessa, os processos permanecem em desordem, as caixas ficam pela metade, tudo está paralisado. A morte torna todo o resto fútil, desnecessário. Sorrir enquanto um amigo chora é como um crime. Contendo as lágrimas, aos poucos, as máquinas recomeçam.

0098524 1400/10-9 OK
9008567 1300/10-8 OK
1226850 1400/10-5 OK
2398745 1200/10-4 OK

Todos são colocados nas caixas. As vidas dentro das caixas. A morte silenciosa. Não há crença que minimize a dor. Não há mais sorrisos nem versos até o fim do expediente. A leitora começa a pegar ritmo,

pi...tam...pi...tam...pi...tam...pi...tam...pi...tam...pi...pi...pi...pá...pá...pá...pá...pi..tic...tac...tic...tac...tic...tac...pá...tac..pi..tum...pá...
Continua a grande engrenagem da vida.

                                                                   

3 comentários:

  1. Muito bonito, e ao mesmo tempo triste o teu post. =(

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  2. É, incrivelmente as coisas nem sempre saem como planejamos.
    Viver, essa é a palavra chave. Sentir o que ela transmite em cada minúscula partícula é o que nos mantém vivos.
    É como na máxima:
    "Viver é raro, a maioria das pessoas apenas existe", meu velho viveu, e bem.
    Obrigado pelo apoio.
    Chris

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  3. Gostei, poesia concreta com onomatopéias no lugar certo...

    A isto chamo arte, expressar emoções e opiniões unindo forma e conteúdo.

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