28 de fev. de 2010

Mandalas

Essa é uma mandala Apache pintada por mim e que me remete a Florianópolis. Em baixo dela, escrevi uma linda canção dos índios Sioux.




"Os pássaros deixam a terra
com a ajuda de suas asas.
Humanos também podem
deixar a terra
não com suas asas
mas com seus espíritos."

Hehaka Sapa, Sioux

21 de fev. de 2010

Reconectando



Acredito que as coisas só acontecem na nossa vida quando tem que acontecer. Há uns três anos atrás eu estava na casa de um antigo namorado e encontrei um livro ao qual não dei a mínima atenção, até porque a família dele guardava aquele livro no banheiro junto à privada (preconceito meu, é claro, supor que era um livro ruim por causa disso), porém, o título ficou na minha cabeça e a capa também era bastante chamativa. Tempos mais tarde o meu atual namorado me mostrou umas músicas da banda NaurÊa as quais não dei bola pois não me interessavam.


Sempre gostei de assistir ao filme “O Último dos Moicanos” – cuja história mostra a dizimação de povos indígenas em prol dos interesses dos colonizadores através do envolvimento de uma moça americana com um rapaz adotado pelos moicanos – o filme sempre me deu vontade de estudar sobre este assunto e, no entanto, nunca busquei nada sobre o tema. Um dia acordei pensando naquele livro de anos atrás. Eu tinha que comprar “Enterrem meu coração na curva do rio”. Acabei o ganhando e comecei a lê-lo imediatamente. Quando já estava lá pela metade do livro, minha mãe apareceu com uma surpresa: havia conseguido comprar para mim, por um ótimo preço, um livro importado de mandalas feitas originalmente pelos mesmos índios que apareciam no meu livro. Neste livro de mandalas , além dessas figuras que eu gosto tanto, havia uma série de canções e versos dos mesmo índios – sioux, cheyennes,navajos,etc.

Ao mesmo tempo em que comecei a me aprofundar mais na história dos índios norte-americanos – que já foi minha história em outra vida e continua sendo, de forma diferente, nesta – também me aproximei mais da cultura afro-americana e nordestina.
Como aconteceu com o tema dos indígenas, sempre tive uma conexão com os outros dois, mas nunca procurei nada sobre. Filmes sobre o nordeste eu sempre assisti, pois tenho admiração especial pelas pessoas que vivem lá – acredito que eles têm algo que nós não temos, pois com todas essas parafernálias de computadores, máquinas fotográficas, roupas e mais roupas e tudo mais, nós sempre queremos mais e eles, mesmo sem tudo isso, sorriem, são felizes.

Mais recentemente, fui à melhor festa da minha vida em que tocaram ritmos como Maracatu, Baião, Samba de Raiz e outros, eu não sabia o que esperar dessa festa e me senti especialmente livre enquanto estava lá.

A minha conexão com o povo negro, começou diferente. Minha mãe sempre esteve muito ligada e informada sobre os orixás, a umbanda, o candomblé e, por tabela, ia me informando. É claro, que ela sabe sobre esse tema e eu ainda sei muito pouco. Porém, a minha curiosidade e busca pessoal me fazem ir atrás cada vez mais disso tudo.


Outras duas coisas aconteceram no mesmo tempo de tudo isso, da mesma forma como antes, eu sempre fui espírita e nunca li nada a respeito. Na mesma época em que comecei a ler o livro dos índios, li também “Amor além da vida” – o filme é muito bonito, mas o livro é maravilhoso – e ele “abriu a minha cabeça”, senti uma forte necessidade de saber mais sobre a minha religião e comecei com outro livro teórico muito bom: “Espíritos entre nós”.

Acredito que tudo está interligado. O fato de eu ter começado a me aprofundar em todos esses temas ao mesmo tempo significam algo, só que ainda está tudo embaralhado na minha cabeça – falta que eu entenda uma parte importante: a conexão. Pois eu sei que tudo faz parte de mim, mas a que tudo isso leva, eu ainda não sei.


*A cena postada lá em cima faz parte do filme “Ó, Paí,ó” o qual assisti semana passada e acredito que faça parte de tudo que estou vivendo no momento. O diálogo entre o personagem do Lázaro Ramos e o do Wagner Moura é muito bacana e atual.

17 de fev. de 2010

Para uma avenca partindo


Minha experiência com os contos do Caio Fernando Abreu começou de forma estranha. Enquanto a maioria das minhas amigas da época o adoravam, o liam e o recomendavam, eu só havia tido experiências ruins com o Caio. Li alguns de seus contos e não gostei de nenhum por causa de seu realismo e de sua melancolia.

Em certa Feira do Livro, resolvi dar um passo maior, pois eu sempre gostei de dar uma segunda chance para tudo e para todos, então me arrisquei comprando um de seus livros: “O Ovo Apunhalado”. Continuei não gostando de muitos de seus contos e, no entanto, acabei me apaixonando por todos os outros.

Um conto que leio e releio deste livro é aquele que intitula a postagem e, inclusive, o nome deste blog provém do desfecho do referido conto. “Para uma avenca partindo”, no meu ponto de vista, é um conto sobre o essencial que não é dito e o que o rodeia e esconde: o desnecessário.

Aqui, deixo uma palhinha:

“(...)acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ……… ………… …………. ………… ………. ……….. …………. ………… ………… ………… ……… ……….. ………… ………… sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.”

13 de fev. de 2010

Tupanciretã - a terra da mãe de Deus

A gente chega com a cara amassada e com gosto de sono mal dormido na boca. A viagem é longa ao ponto de cansar aqueles que não conseguem dormir por mais de uma hora quando viajam de ônibus – como eu. Altas horas da noite a rua é vazia, altas horas do dia e as ruas continuam vazias – a quantidade de gente na rua aumenta um pouco nos sábados e dias festivos. O ponto alto do centro é a sorveteria, local em que todos se encontram. As ruas não são marcadas como na cidade grande, esquina da Igreja com o supermercado, mas sim, esquina da casa amarela do senhor desconhecido com a casa azul da dona fulana de tal. Sempre que chego acho que estou andando para um lado e na verdade estou andando para outro, de carro ou a pé a confusão é a mesma e até o que eu conheço, desconheço. Já vim para Tupanciretã umas dez vezes e a única coisa que sei é que a casa fica perto dos trilhos que ficam perto do centro, mas me coloque numa rua muito distante sem um celular na mão que posso ser dada como desaparecida. Eu só sei identificar aquilo que faz parte do meu contexto – o supermercado, o shopping, o cinema que fazem esquina com a rodoviária,com a avenida principal,com o viaduto,com a ponte – impossível identificar ruas com nomes estranhos os quais nem são usados e que na verdade são marcadas pelas casas das famílias que ali vivem.

Em Tupã todo mundo se conhece, todo mundo sabe da vida de todo mundo e o ar é mais puro, tudo é perto, não tem nem semáforo. A cidade não é assim tão pequena, não é daquelas que tem como ponto principal a Igreja e a cidade se forma ao redor dela – aqui tem até duas Igrejas (que eu tenha visto) – mas, realmente, são pouquíssimos bares, uma danceteria e as pessoas batem nas portas umas das outras para fazer propagandas políticas. O melhor é que sempre somos recebidos de braços abertos, com a mesa cheia, a cama arrumada – como se fosse a própria casa. Os braços que nos abraçam são fortes e receptivos e no rosto sempre há um sorriso estampado por receber quem chega.

Aqui é longe e tranquilo, o sol e o céu parecem mais livres do que em Porto Alegre, o vento corre solto sem bater nos altos prédios cinzas, as pessoas todas se cumprimentam quando se encontram na ruas,mas sem trazer livros e outras atividades da cidade grande nem a mãe de Deus aguenta!

10 de fev. de 2010

Um recado bem rápido bem rápido bem rápido bem rápido bem rápido bem rápido...

Comecei a fazer hidroginástica há um mês e queria deixar um recado para meu professor:

Querido professor, eu não sei se o senhor percebeu, mas eu ainda não me chamo máquina. Meu nome é Lauana, tenho 21 anos e sofro de asma, lentidão e falta de coordenação – questões estas que o senhor nem me perguntou e com as quais não se preocupou. Eu sei que para o senhor talvez eu seja só mais um rostinho bonito e rechonchudo em busca de ideais bem difíceis nos dias de hoje: emagrecer um pouco, ser saudável, conseguir tempo para praticar esportes. Mas, eu acho que o senhor poderia ao menos ter percebido que eu não sou igual as suas outras alunas e que o meu “bem rápido” é igual ao “médio” das outras. Querido professor, não estou pedindo que você me dê um tratamento especial o qual você não dá para nenhuma de suas outras alunas, tais como entrar na piscina e me ensinar de forma prática e não teórica um exercício, nem peço que o senhor abandone o seu tão sagrado reloginho que marca o tempo exato de cada atividade e até nem pedirei para que o senhor largue esse maldito hábito de pedir que tudo seja mais rápido dentro do que o senhor considera que seja o rápido ideal para uma menina consideravelmente saudável de 21 anos e sem problemas cardíacos. O que eu peço é coisa simples: perceba que eu sou um ser humano e diferente de todos os outros. E mais, perceba que apenas ser simpático e carismático não faz de você um bom profissional.

E desculpe senhor professor se este recado não atingiu o seu 100% ao criticar a sua aula, pois eu sei que o senhor só dá aulas para pessoas 100%.

1 de fev. de 2010

O som do silêncio


Tenho o costume de tirar o som da televisão para ver qual o efeito disso. Quando faço isso em um canal em que esteja dando a novela ou alguma entrevista é porque eu simplesmente me incomodo com o excesso diário de som, mas fazer essa experiência em programa de clipes é muito bacana. Um clipe sem música é um mundo sem sentido. Com a música, às vezes, já não faz sentido algum, mas sem som chega a ser hilário, principalmente quando o clipe é de uma banda de meninas gostosas ou de cantores metidos. O que se vê é um cara vestido pra festa encostado na parede falando bobagens incompreensíveis ou um monte de meninas vulgares que mexem e remexem o corpo pra chamar a atenção do machão com quem estão contracenando. A dança não faz sentido, o olhar não avista nada e as palavras não chegam a ponto nenhum – já que é delas que dependem um clipe musical. Numa destas últimas experiências, me deparei com uma pergunta: o que é um clipe para um surdo? A minha resposta foi: um mundo colorido sem significado. É claro que o corpo fala, mas os clipes não foram feitos para surdos.

Experimentar a visão do outro através de meu próprio olhar é algo que me atrai. Eu sempre fui alta, logo não sei como é ver o mundo um pouco mais de baixo; caminho com as pernas, portanto, não sei como é andar em cadeira de rodas em cidades sem estrutura; não sou surda, por isso não consigo imaginar um mundo sem ruídos, não cheguei à velhice, consequentemente não sei como é não ser mais tão jovem. Todos os outros mundos que não correspondem ao meu, eu desconheço. Estou bem naquele em que me encontro, mas tenho vontade de compartilhar.

Uma vez estudei libras, mas como não tinha com quem conversar acabei esquecendo tudo. Era lindo falar com as mãos. É muito bacana falar com o corpo e reduzir um pouco o uso de palavras. Os dias são tão cheios de sons e barulhos incômodos. Fico impressionada com o fato de não conseguir ouvir uma música que toca em volume médio no meu ouvido por causa dos barulhos externos – por causa disso já desisti de tentar ouvir música dentro do ônibus. Um mundo completamente sem som, para mim, seria impossível, mas às vezes da vontade de desligar o mundo, colocar no ”mute” por alguns minutos para se conseguir ouvir somente aquilo que se quer. Seria interessante apertar no “mute” do meu controle remoto e por para tocar uma música instrumental.

Será que o mundo está cada vez mais barulhento por que as pessoas não querem se ouvir? Eu quero adotar uma campanha: desligue o mundo por 15 minutos, ouça o silêncio! Ouça o outro!