29 de mar. de 2010

As Brumas de Avalon

Estou lendo As Brumas de Avalon. Gente, que livro fantástico! Recomendo esta leitura a todos que gostam de ficção e de realidade, pois neste livro elas andam lado a lado. O que me deixa mais encantada nesta leitura é o evidente choque de culturas que há entre a crença na Deusa e a crença em Deus.

No livro, aqueles que acreditam na Deusa, afirmam que todos os Deuses são um só e que cada um tem direito de acreditar naquilo que quer. Porém os cristãos, afirmam que acreditar em um Deus que não seja o deles é pecado. Além disso, os cenários se contrapõem de tal forma que não há como não perceber a falta de sintonia que há entre as duas crenças. Enquanto os cristãos celebram suas comemorações com o bater dos sinos, com imagens sacras em altares reluzentes e com mulheres castas e submissas, as sacerdotisas e os crentes da antiga fé reúnem-se ao redor de fogueiras para celebrar Casamentos Sagrados, pintam seus corpos, cuidam da natureza e as mulheres possuem lugar sagrado em meio aos rituais e trabalhos diários.

Se eu tivesse que escolher um lado, obviamente estaria ao lado da Deusa. Desde criança o falatório interminável dos padres, as Igrejas tão lindas com as imagens inalcançáveis me cansavam. No entanto, nesta leitura é possível verificar extremismos de ambos os lados – não só as mulheres cristãs guardavam suas virgindades para entregá-las aos maridos escolhidos pelos pais, também as sacerdotisas só podiam entregar seus corpos aos escolhidos pela Deusa. Para mim, isto é absurdo demais – desde quando alguém que se diz o representante de Deus (seja ele qual for) deve dizer com que pessoas alguém deve ou não estar, deve ou não se casar? E desde quando Deus tem apenas um ser que fale para ele? Afinal, Deus está em tudo, está em todos.

Eu, definitivamente, me irrito quando começam longos diálogos sobre tudo ser pecado, sobre Cristo ser um Deus que castiga e sobre mulheres se mostrarem ousadas por expressarem suas opiniões uma ou duas vezes. Pois se assim ainda fosse teríamos que andar com chicotes nas mãos para nos açoitarmos a cada pensamento julgado por sei lá quem que não me conhece como corrupto (e pensar que há pessoas que fazem isso).

E, contudo todas as crenças se assemelham tanto. Há que se fazer jejuns longos e rezar muitos dias para se alcançar plenamente ao Deus. Isso me soa estranho, já que o meu Deus está ali fora nas árvores que avisto, nos pássaros que passam, na noite que chega mansinha e aqui dentro de minha casa junto dos meus familiares, nas paredes que construímos juntos – não tenho que passar por longos períodos de fome e cansaço para falar com meu Deus e qualquer um que tiver que passar por isso para estar junto do seu, me parecerá distante e desconectado de si. Aceito que existam outros Deuses e outras maneiras de se estar perto dele, entretanto, passar por provações físicas não me é aceitável, pois se assim fosse não haveria sentido em ser humano - ser humano para sentir dor física, me parece castigo e o meu Deus não castiga.

Em mim, essas questões foram as mais pulsantes até o momento. Estou na metade do livro dois e o devoro com voracidade. Algumas passagens do livro também me marcaram bastante até o momento, registrarei algumas aqui para compartilhar e atiçar a curiosidade de todos. Espero que busquem por esse livro e possamos refletir ainda mais sobre ele posteriormente.



“Consideram heresia pensar que os homens tem mais de uma vida, o que qualquer campônes sabe ser verdade (...). Mas sem acreditar em mais de uma vida, como evitar o desespero? Que Deus justo criaria homens desgraçados ao lado de outros felizes e prósperos, se todos tivessem apenas uma vida?”

“Pois vejo um destino para ele, em seu mundo – tentará fazer o bem, como a maioria do seu povo, mas só fará mal.”

“As lágrimas vertidas pelas mulheres não deixam marcas no mundo.”

“Vocês cristãos gostam muito da palavra impróprio.”

”Eles dizem: acreditem no que não viu, professe o que não sabe, há mais virtude nisso do que em acreditar no que viu.”

“É no momento da morte que o disfarce mortal de uma vida apenas desaparece.”

Um comentário:

  1. Olá Lauana,

    É de fato um livro fascinante e muito recomendável àqueles que, como eu, cresceram trazendo no imaginário a lenda católica do Rei Arthur e sua irmã má Morgana. As brumas contam uma (h)estória muito mais verossímil.

    Repare que a Antiga religião da Deusa segue o mesmo calendário dos Mayas, 13 meses de 28 dias, de acordo com o ciclo lunar, está referência pode ser encontrada em inúmeras manifestações religiosas pré-cristãs, enfim, todas as religiões estão conectadas entre si, infelizmente algumas se desconectaram da natureza...

    Quanto ao seu comentário acerca do jejum, ou da escolha da Deusa, entenda que TODAS as religiões possuem dois lados, o de dentro e o de fora, aos de fora cabe apenas ter fé e seguir determinados rituais, porém aos de dentro, aos sacerdotes, é necessária dedicação incondicional, o que para os de fora pode parecer apenas dogmas e rituais vazios de sentido, até que se compreenda que sexualidade, alimentação, e oração implicam em questões energéticas, sutilização dos sentidos na busca de perceber energias mais sutis, necessário muitas vezes àqueles que buscam interagir com os seres que habitam outros planos, e desnecessário àqueles aos quais basta crer.

    Se visitares o www.myspace.com/domdiegosilva verás um player à direita que contém algumas composições mal gravadas, a 10º canção se chama "In Nomine Patris" e defende um ponto de vista bem semelhante ao seu nesta postagem.


    Abraço,

    Diego.

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