14 de jan. de 2010

Circulando



Acabo de assistir um documentário que sob muitos aspectos é especial. Chama-se Um Passaporte Húngaro, esse filme trata de uma moça que na intenção de conseguir sua nacionalidade Húngara herdada dos avôs, acaba por descobrir a si mesma através da história deles. Os avôs vieram da Hungria fugindo da Segunda Guerra em 1938, com eles trouxeram o pai dela ainda na barriga da avó, deixaram toda vida construída para trás para que não fosse destruída no futuro, e conseguiram vir para o Brasil.


Três pontos me chamaram muita a atenção. O primeiro está relacionado a esta maldita guerra que tanto me causa dor. A Segunda Guerra Mundial é um dos eventos históricos que mais se faz presente na minha vida – nenhum parente próximo a mim ou amigo ou conhecido veio para cá fugido da guerra, nem ao menos conheço pessoas que tiveram grande proximidade com essa guerra e, no entanto, ela marca a minha vida. Neste filme percebi que nós nunca teremos a total noção da extensão de uma guerra, do modo como ela marca a vidas das pessoas de forma irreversível. Mesmo as pessoas que sobreviveram a ela foram marcadas, perderam familiares e amigos, tiveram que trocar de nome, tiveram que se esconder e mesmo que seguros, ficar sem um lar. De um lado ou de outro, essas pessoas ficaram perdidas e sofreram e sofrem.


O outro ponto que me chamou a atenção é que este filme é um filme Arquivístico, trata da busca, do encontro, da vida contida em um papel. No filme uma pessoa mostra um arquivo antigo que foi responsável por salvar sua vida. Isso me remeteu ao meu trabalho em que, diariamente, pessoas entram e saem buscando processos que, às vezes levam anos tramitando – aqueles papéis podem estar carregando o que há de mais importante na vida daquelas pessoas e, na maioria das vezes tramitam em mãos inexperientes que não sabem reconhecer o valor daquela informação e do papel que eles, como funcionários, exercem no desempenho de suas funções.


Durante o filme, a diretora vai encontrando pedaços de sua história e as vai remontando até o fechamento de um ciclo. Como é bacana isso na vida! Podermos nos encontrar e reencontrar através da história de nossos antepassados, através de fotografias, músicas, terapias, filmes, imagens e tudo o mais que nos possibilita a construção e apropriação do que é nosso, do que nós somos. Isso é fantástico!

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